Ensino Superior

A presença salesiana na Educação Superior

2.3.1.- A originalidade da presença dos salesianos na Educação Superior

Trata-se de uma presença recente na história da Congregação Salesiana. A primeira instituição neste âmbito remonta a 1934 (St. Anthony’s College, Shillong, Índia), contudo, a consciência da importância deste nível educativo e o desenvolvimento no mesmo da presença salesiana só aconteceram nas últimas décadas do século passado, com o processo mundial de acesso maciço das classes médias e populares à educação superior.

A presença salesiana na Educação Superior cresceu quantitativa e qualitativamente a partir do processo de reflexão e trabalho em rede das instituições universitárias, iniciado em 1997 por iniciativa do Reitor-Mor, P. Juan Edmundo Vecchi,como serviço da Direção Geral às Províncias e às próprias Instituições (cf. P. Juan Vecchi, ACG 362, “Documentos e Notícias: Um serviço para as instituições universitárias salesianas”). Este serviço, feito através da Coordenação Geral das IUS, representou a vontade da Congregação Salesiana de orientar e qualificar o desenvolvimento deste novo tipo de presença entre os jovens. Como resultado do processo realizado, a Congregação Salesiana, através de uma modificação do artigo 13 dos Regulamentos Gerais, quis reconhecer que a presença no âmbito da educação superior faz parte da sua missão:

«A escola salesiana, os centros de formação profissional e as instituições de educação superior promovem o desenvolvimento integral do jovem mediante a assimilação e a reelaboração crítica da cultura e a educação para a fé, tendo em vista a transformação cristã da sociedade» (Reg. 13; cf. CG26, n. 122).

A presença salesiana neste âmbito é hoje uma realidade muito difundida e diversificada. Atuamos através da direção e promoção de instituições universitárias – sob a direta responsabilidade da Congregação Salesiana em corresponsabilidade com outras instituições eclesiais –, da gestão e animação de Colleges e residências para jovens universitários, e a presença de numerosos salesianos com responsabilidade de direção, ensino, investigação ou animação da pastoral universitária em instituições de ensino superior salesianas, eclesiais ou públicas.

A reflexão e as orientações da Congregação Salesiana para a presença na educação superior visam de modo especial as instituições de ensino superior, os Colleges e as residências universitárias sujeitas à sua responsabilidade, enquanto estruturas que permitem desenvolver uma proposta educativo-pastoral mais orgânica e animada especificamente pelo carisma salesiano.

  1. As Instituições Salesianas de Educação Superior

Sob o nome de Instituições Salesianas de Educação Superior (IUS) inclui-se um conjunto de centros de estudo de nível superior e terciário, de que a Congregação Salesiana é titular ou responsável, direta ou indiretamente. As diferenças nas condições sociais e nos sistemas educativos dos países onde estão presentes fazem com que os centros apresentem uma grande diversidade não só no modo de gestão, mas também do ponto de vista dos graus académicos conferidos e do tipo de cursos oferecidos: Universidades, Centros Universitários, Politécnicos, Colleges, Faculdades, Institutos, Escolas Superiores ou Especializadas.

Na origem das IUS constam diversas motivações: a preocupação de oferecer e garantir aos salesianos religiosos uma formação de nível superior; a passagem ao ensino superior enquanto resultado natural do crescimento e evolução das escolas secundárias, conhecidas pela sua excelência académica e educativa; a necessidade de continuar a acompanhar os jovens no período da sua vida no qual tomam decisões fundamentais para o próprio futuro, a oferta de uma oportunidade de acesso à universidade àqueles que provêm de ambientes populares e do mundo do trabalho (cf. Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 2.19). No seu conjunto, refletem a convicção de que, através dos nossos centros de formação superior, somos capazes de oferecer à sociedade uma proposta cultural de qualidade, enriquecendo-a com pessoas humanas, profissionais competentes e cidadãos ativos.

A natureza e a finalidade deste tipo de presença salesiana foram definidas pelas próprias instituições através do processo de reflexão e trabalho em rede já assinalado. Isto tornou possível a elaboração e, depois, a aprovação pelo Reitor-Mor e seu Conselho, de uma série de documentos que fundamentam hoje o quadro de referência das IUS: Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior (Roma, 2003) e Políticas para a presença salesiana na educação superior 2013-2016 (Roma, 2012). Enquanto o primeiro define a identidade e a natureza deste tipo de presença, o segundo torna concretas as orientações operativas para o desenvolvimento das instituições num determinado período.

As IUS são definidas como «instituições de ensino superior de inspiração cristã, caráter católico e índole salesiana» (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 14). Assumindo a tradição científica e académica própria da estrutura universitária, oferecem a este nível educativo os valores e o espírito próprios do património educativo e carismático salesiano, configurando-se assim como instituição de educação superior com identidade específica, tanto no interior da Igreja como da Sociedade.

Como parte da Igreja, as IUS querem ser «uma presença cristã no mundo universitário diante dos grandes problemas da sociedade e da cultura» (Ex Corde Ecclesiae 13); como presença da Congregação Salesiana, «caracterizam-se pela sua opção em favor dos jovens das classes populares, pelas comunidades académicas com clara identidade salesiana, pelo projeto cultural, cristã e salesianamente orientado, e pela intencionalidade educativo-pastoral» (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 18).

As IUS – como qualquer obra salesiana – estão sob a responsabilidade da Província, que as promove e sustenta, e lhes atribui uma função específica no interior do seu POP. Toda a IUS é uma presença qualificada da Província ao serviço da missão e dos demais tipos de presença salesiana no seu território.

a) A comunidade académica das Instituições Salesianas de Educação Superior

Importância da comunidade académica

«Cada IUS, enquanto instituição de educação superior, é uma comunidade académica, formada por docentes, estudantes e pessoal administrativo, que promove de modo rigoroso, crítico e propositivo o desenvolvimento da pessoa humana e do património cultural da sociedade, mediante a investigação, a docência, a formação superior e contínua e os diversos serviços oferecidos às comunidades locais, nacionais e internacionais» (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 15).

Como tal, dispõe de autonomia institucional própria, académica e de governo, no respeito pela missão e finalidade confiadas pela Igreja e pela Congregação Salesiana (cf. Ex Corde Ecclesiae 12; Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 21), assim como da orientação específica indicada pela Província e consignada nos próprios atos estatutários e normativos.

A comunidade académica das IUS é o sujeito da missão, como a CEP noutros ambientes e obras salesianas. Os seus membros empenham-se a trabalhar de maneira corresponsável na elaboração da proposta educativa integral para os jovens e agem com responsabilidade diante das carências e expetativas da sociedade em que estão inseridos.

A comunidade configura-se em sintonia com os valores do humanismo cristão e do carisma salesiano, indicados no Projeto Institucional. Como afirma a “Ex Corde Ecclesiae”, «A fonte da sua unidade brota da sua comum consagração à verdade, da mesma visão da dignidade humana e, em última análise, da pessoa e da mensagem de Cristo» (n. 21).

Os sujeitos da comunidade académica

Como os documentos de referência indicam, a comunidade académica é formada por diversos membros, salesianos e leigos, que cooperam de forma corresponsável na realização dos objetivos institucionais. Para alcançar a sua finalidade, a comunidade académica requer de cada um de seus membros:

  • identificação com o carisma e o método educativo salesiano, indicado sobretudo no Sistema Preventivo de Dom Bosco;
  • atenção à realidade da condição juvenil e à capacidade de relações com os jovens universitários;
  • identificação e empenhamento no Projeto Institucional, que supõe e exige de cada membro da comunidade educativa coerência ética e profissionalismo, teórico e prático, com os valores e os princípios nele contidos;
  • competências necessárias para a realização das funções universitárias;
  • respeito pelas respetivas funções e pelos papéis confiados a cada membro (estudantes, docentes, pessoal diretivo, administrativo e de serviço).
  • cuidado e promoção de um ambiente em que a pessoa humana esteja no centro, e em que o diálogo e a colaboração sejam a base do método educativo.

Os educadores e membros da comunidade académica empenham as suas qualidades pessoais e competências em vista da única finalidade educativo-pastoral (cf. Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 31); cada um, porém, fá-lo segundo as suas competências na tarefa específica que lhe é atribuída no interior da comunidade académica, cuja configuração requer:

  • docentes, que tenham as respetivas competências profissionais, pedagógicas e relacionais, capazes de organizar toda a sua atividade académica, tanto de investigação como de ensino, em coerência de vida com os valores do Evangelho;
  • estudantes, orientados para a sua própria formação humana e profissional, que participam corresponsavelmente no desafio cultural, científico e social promovido pelo Projeto Institucional;
  • pessoal administrativo e de serviço, que assume o seu próprio trabalho como suporte imprescindível da atividade académica e como contributo para a formação dos jovens universitários;
  • dirigentes, salesianos e leigos, capazes de coordenar os desafios e as responsabilidades próprias da instituição universitária e orientar a comunidade na elaboração e realização do Projeto Institucional.

A fim de realizar eficazmente a sua missão e conseguir um resultado de qualidade, segundo a finalidade e os objetivos da própria identidade universitária, católica e salesiana, cada IUS deve garantir a gestão e o desenvolvimento do seu pessoal, sobretudo docente e diretivo. Isto implica uma cuidadosa seleção, formação e acompanhamento, para garantir a identificação e o empenho no Projeto Institucional (cf. Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 29).

b) O Projeto Institucional

Como instituição de educação superior, toda a IUS deve fazer investigação, coordenar o ensino, difundir o saber e a cultura. Cada uma, porém, fá-lo «num projeto institucional específico – de caráter cultural e científico, pedagógico-educativo e pastoral, organizativo e normativo – o qual, respondendo às exigências da realidade local e da universidade, concretiza e aplica de modo global em termos operativos a identidade acima descrita» (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 26).

O Projeto Institucional especifica o modo como a instituição contextualiza o carisma salesiano em resposta às exigências do sistema de educação superior nacional e às condições do território onde está situada. Missão e contexto local dão a cada IUS o seu próprio caráter particular no conjunto das instituições de educação superior presentes no mesmo território.

«As Congregações e Ordens Religiosas asseguram uma presença específica nas Universidades e, pela riqueza e diversidade dos seus carismas – especialmente o educativo –, contribuem para a formação cristã de Mestres e Discípulos» (Presença da Igreja na Universidade e na cultura universitária, II, n.1).

Além de definir com clareza a natureza, a missão e os objetivos institucionais, o Projeto esclarece as opções e os critérios da investigação, seleciona as áreas científicas e profissionais do ensino e os métodos de transmissão do conhecimento e da cultura. Em coerência com o Projeto Orgânico Provincial (POP), avalia as opções a privilegiar no território, os setores e as áreas sociais a favorecer, em consonância com a missão salesiana e as necessidades da Igreja local, da qual é uma presença qualificada no campo universitário. O Projeto Institucional é uma verdadeira carta de navegação que orienta integralmente a vida da instituição.

O desenvolvimento e a aplicação concreta do Projeto Institucional são realizados progressivamente com a adoção de uma série de instrumentos e procedimentos que garantem a sua orientação, direção e gestão e o funcionamento de acordo com a identidade específica (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 28); em primeiro lugar, o Plano Estratégico e o Plano Operativo para a realização progressiva do Projeto Institucional, com a definição dos objetivos estratégicos, metas, linhas de ação e identificação de recursos; a avaliação institucional e a credenciação, como procedimentos ordenados a garantir a melhoria constante da instituição e a efetiva realização dos objetivos e da finalidade educativo-pastoral indicados. Enfim, o Projeto Institucional determina a estrutura organizativa e o corpus normativo (estatutos, regulamentos) que caracterizam a vida universitária e a cultura institucional.

c) A proposta educativo-pastoral

Como já foi referido, «o projeto cultural de cada IUS é movido por uma clara finalidade educativo-pastoral segundo as características da pedagogia e da espiritualidade salesiana» (Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, 24). Esta finalidade é traduzida na proposta educativo-pastoral dirigida a todos os membros da comunidade académica, em particular aos estudantes, e no desejo de ter incidência educativa e cultural na sociedade e na Igreja (cf. Identidade das Instituições Salesianas de Educação Superior, n. 24.31).

A proposta educativo-pastoral está contida no Projeto Institucional e é realizada através dos diversos processos e ações com que a instituição realiza as suas funções de investigação, ensino e serviço à sociedade. Fundamenta-se na concepção cristã da pessoa e orienta-se segundo os valores do espírito e da pedagogia salesiana (cf. Ex Corde Ecclesiae 49; Identidade das Instituições Salesianas de Ensino Superior, n. 22). De acordo com estes princípios, a proposta educativo-pastoral promove:

  • a concepção de pessoa humana inspirada no Evangelho, que a coloca no centro da vida e promove a sua dignidade;
  • a constante busca da verdade mediante a investigação à luz do Evangelho, que coloca o conhecimento ao serviço da pessoa e do desenvolvimento da sociedade;
  • a visão formativa que prepara pessoas capazes de juízo crítico, com uma compreensão orgânica da realidade, resultado da interdisciplinaridade e da integração do saber;
  • a conceção da vida profissional orientada para a consciência ética e aberta à responsabilidade e ao serviço na sociedade;
  • o diálogo entre cultura, ciência e fé, capaz de iluminar cristãmente a vida e favorecer a inculturação do Evangelho.

A finalidade educativo-pastoral manifesta-se também na vontade de incidência educativa e culturalna sociedade e na Igreja. Realiza-se mediante o empenho do conhecimento da realidade social e da sua transformação, sobretudo nos aspetos relativos à condição dos jovens (cf. Políticas para a presença salesiana na educação superior 2012-2016, n. 41). O contexto social é uma referência constante para a vida e a atividade da instituição, constitui o campo de prova das suas propostas educativas e um desafio constante à sua significatividade.

Este serviço é realizado através da investigação científica, do estudo dos problemas humanos e sociais contemporâneos, da análise crítica da cultura, da promoção do bem comum e da justiça social segundo os princípios da doutrina social da Igreja, e a transformação de homens e mulheres capazes de assumirem um compromisso responsável de serviço na Igreja e na sociedade.

d) A animação pastoral orgânica das Instituições Salesianas de Educação Superior

A proposta educativo-pastoral explicita-se e é atuada nas diversas dimensões de vida e atividades da instituição, em particular no ambiente educativo, na proposta de formação integral dos estudantes, na atenção e no cuidado pastoral dos membros da comunidade.

[1] O ambiente educativo, elemento chave da pedagogia salesiana, é concebido como espaço rico de estímulos e relações de qualidade entre as pessoas fazendo circular um conjunto de valores que tornam possível a ação educativa e pastoral. Isto comporta na práxis educativa salesiana:

  • um ambiente de família, caracterizado pelo acolhimento e disponibilidade para o encontro pessoal;
  • uma relação humana, em que são evidentes o respeito, a cordialidade e a disposição para o diálogo;
  • um reflexo da prática dos valores propostos (solidariedade, justiça, liberdade, igualdade, etc.) na vida das pessoas e na organização da instituição;
  • um ambiente rico de propostas educativas e experiências capazes de favorecer o desenvolvimento das pessoas;
  • uma promoção e o acompanhamento do associativismo e a participação através de diversos organismos de representação;
  • uma disponibilidade e distribuição de espaços e estruturas físicas que favoreçam o encontro, a comunicação e a relação entre as pessoas.

[2] A proposta de formação integral é explicitada na atividade académica e nas iniciativas complementares que configuram a vida universitária. Na medida em que a investigação, o ensino e a prática profissional são realizados concordemente, contribuem para a criação da estrutura do pensamento e o desenvolvimento de critérios, atitudes e competências que garantam aos estudantes a sua formação integral. Com o seu caráter global, esta proposta oferece aos estudantes o amadurecimento pessoal e a preparação cultural, científica e profissional necessária para garantir a plenitude da pessoa e a sua inserção na sociedade.

A integralidade oferecida no Projeto Institucional exige, portanto, uma atenção particular aos seguintes aspetos:

  • elaboração de um modelo educativo que integre os valores e os princípios da visão humanista cristã e salesiana, as teorias e os métodos de aprendizagem, as metodologias e os recursos didáticos necessários;
  • desenho de um modelo curricular que ofereça o desenvolvimento de critérios e atitudes humanas de base, conhecimentos e competências relacionadas com o crescimento profissional e que preparam a pessoa para a vida, para o trabalho profissional e para a sua inserção na sociedade;
  • forma científica e rigorosa da investigação, dos itinerários curriculares e dos conteúdos da docência, abertos a uma visão transcendente da pessoa humana e da vida;
  • diálogo interdisciplinar entre as diversas matérias académicas, incluídas as de caráter ético, religioso e teológico, para ajudar os estudantes a adquirirem uma visão orgânica da realidade;
  • oferta de matérias curriculares específicas de caráter ético e religioso de nível científico e pedagógico e de valor académico semelhante às das demais disciplinas do itinerário curricular.

[3] O desenvolvimento humano integral oferecido pela proposta formativa requer atenção pastoral e acompanhamento de cada pessoa.

«A pastoral universitária é aquela atividade da Universidade que oferece aos membros da própria Comunidade a ocasião de coordenar o estudo académico e as atividades para-académicas com os princípios religiosos e morais, integrando assim a vida com a fé» (Ex Corde Ecclesiae 38).

A integralidade implica a integração das diversas dimensões da pessoa com a transcendente e com sua abertura a Deus. Isto supõe o desenvolvimento de um modelo de formação e de pastoral que:

  • garanta a orientação e o acompanhamento da pessoa na integração das diversas dimensões do seu desenvolvimento humano, cristão, profissional e social;
  • anuncie explicitamente Jesus Cristo e o seu Evangelho, acompanhando os que livremente desejam percorrer um caminho de crescimento e amadurecimento cristão, com itinerários de educação na fé, celebrações litúrgicas e sacramentais, a inserção e a experiência numa comunidade de fé;
  • crie a possibilidade de diálogo e direção espiritual como meios de acompanhamento de todo o membro da comunidade no seu itinerário de fé e aprofundamento da própria vocação cristã;
  • proponha momentos de reflexão sobre a realidade social, intercultural e inter-religiosa e a situação dos jovens;
  • ofereça propostas formativas, serviços e instrumentos de atenção aos jovens em resposta às situações e aos desafios postos pela sua condição de estudantes universitários;
  • favoreça a realização de experiências de compromisso cristão e solidário através do serviço social ou do voluntariado em favor dos pobres e carenciados;
  • coloque à disposição espaços e estruturas que favoreçam o encontro e o crescimento cristão: locais abertos a todos, acolhedores, de fraternidade, reflexão e oração.

Nas Instituições Salesianas de Educação Superior, a pastoral atravessa, orientando-os e reforçando-os, todos os processos e áreas de atividade da instituição. A sua animação requer uma adequada organização com a nomeação dos responsáveis, a elaboração dos planos de intervenção e a eficiente gestão dos serviços e das estruturas de acompanhamento pastoral às pessoas.

2.3.3. Estruturas de acolhimento para estudantes universitários

A expansão do sistema de ensino superior nos diversos países, considerado necessário para o desenvolvimento económico e social, como também para a consolidação da democracia, envolveu o acesso massivo dos jovens das classes médias e populares à educação superior. O que comportou um crescimento não só no número e tipo de instituição superior, mas também nas estruturas de serviço e acolhimento, indispensáveis para garantir que a ela tenham acesso os jovens residentes longe dos centros de estudo.

«As estruturas de acolhimento, de acompanhamento e de vida comunitária são muitas vezes defeituosas. É por isso que muitos deles, transplantados para longe da família para uma cidade que mal conhecem, sofrem a solidão. Por outro lado, em muitos casos, as relações com os professores são raras e os estudantes encontram-se desprovidos de orientação perante os problemas que os ultrapassam» (Presença da Igreja na Universidade e na cultura universitária, I, n. 1).

A necessidade crescente de garantir a estes jovens um serviço de hospitalidade e, sobretudo, uma experiência positiva de crescimento humano, cristão e profissional, tem encorajado as comunidades salesianas na criação de várias estruturas de acolhimento para jovens estudantes universitários fora da sede. Em conformidade com os sistemas de ensino superior e as condições socioeconómicas de todo país ou região, criaram-se colégios ou residências universitárias, quer como estruturas separadas, próximas dos centros de estudos, quer como estruturas integradas no interior do campus das Instituições Salesianas de Educação Superior ou de instituições pertencentes a outros.

Os colégios universitários, diversamente dos internatos tradicionais com função prevalentemente de moradia, são centros externos à estrutura universitária que oferecem aos estudantes espaço de acolhimento e projeto de formação. Muitos colégios resultam da reestruturação da obra salesiana e da abertura às novas necessidades dos jovens, particularmente nas cidades sedes de grandes e tradicionais estruturas universitárias. Nestes casos, passou-se em geral da iniciativa oferecida de alimentação e alojamento, possível pela reestruturação de edifícios pré-existentes, à criação de verdadeiros ambientes com propostas de formação humana, cristã, académica e profissional.

Os colégios, enquanto estruturas separadas do campus universitário, são geralmente associados a uma obra salesiana, na qual estão presentes outros ambientes (Oratório-Centro Juvenil, Escola, Paróquia, etc.) e em cuja estrutura se inserem e integram. Nesta condição, encontram-se sob a tutela e a promoção da comunidade salesiana responsável pela obra. A sua gestão operativa é confiada geralmente a um responsável salesiano ou leigo, acompanhado por outros tutores e pelo pessoal de serviço.

As residências universitárias são estruturas pertencentes à própria instituição de educação, destinadas ao acolhimento dos estudantes. Encontram-se, em geral, no interior do campus e, além de oferecer espaço de alojamento e ambientes de apoio para a vida e o estudo, permitem aos estudantes fazer experiência no campus, desfrutando da melhor maneira da totalidade dos serviços académicos (biblioteca, áreas de estudo e consulta) e formativos (atividades e programas de caráter cultural, desportivo, religioso e social) postos à disposição pela própria instituição.

Além das atividades extracurriculares, feitas no interior da estrutura universitária, as residências oferecem aos estudantes um programa próprio de formação e crescimento pessoal, espiritual, social e cultural, integrando com os serviços já oferecidos no campus o valor da experiência da vida em comum e da participação num projeto.

a) A Comunidade Educativo-Pastoral das estruturas de acolhimento de estudantes universitários

Importância da CEP nas estruturas de acolhimento de estudantes universitários

Enquanto obras educativas salesianas, os colégios e as residências universitárias são chamados a promover comunidades nas quais se elabore um projeto de formação e se ofereça uma experiência de acompanhamento educativo e pastoral.

Neste tipo de presença, a CEP é composta por todos os responsáveis, salesianos e leigos, encarregados da gestão da estrutura de acolhimento e pelos jovens universitários que, a diferentes níveis, são envolvidos na animação da vida da comunidade e na realização de seus objetivos.

Sujeitos da CEP das estruturas de acolhimento de estudantes universitários

A organização dos diversos serviços de acolhimento e a realização da sua função formativa exigem o envolvimento e a corresponsabilidade dos diversos membros:

  • o diretor e comunidade salesiana, responsáveis pela direção e animação de toda a obra ou da instituição universitária como também da estrutura de acolhimento dos estudantes universitários;
  • o responsável direto, salesiano ou leigo, que em nome da comunidade garante a orientação e a gestão do colégio ou residência e o desenvolvimento da proposta formativa;
  • os tutores ou educadores, que a diversos títulos se inserem e acompanham a experiência da comunidade do colégio ou residência (orientadores, psicólogos, pessoal administrativo, capelães, etc.);
  • os estudantes, chamados a ser verdadeiros protagonistas do próprio crescimento e formação, assumindo papéis e tarefas específicas na vida do colégio ou residência, cada um segundo a própria capacidade e possibilidade específicas;

A edificação da comunidade requer de seus membros atenção aos lugares e tempos adequados de comunicação e formação. É particularmente necessário promover o envolvimento dos estudantes na vida e na animação do colégio ou residência através de grupos, conselhos ou assembleias.

A comunidade salesiana, de modo especial, é chamada a garantir a presença constante nos ambientes e tempos da vida do colégio ou residência, oferecendo aos jovens o seu testemunho e a oportunidade de viverem o espírito de família que Dom Bosco desejava nas suas casas.

b) A proposta educativo-pastoral nos colleges e nas residências universitárias

Colégios e residências oferecem aos estudantes universitários não só o espaço de acolhimento para viverem e estudarem, mas, sobretudo a proposta formativa que lhes permita crescer como pessoas, profissionais e cidadãos. Estas estruturas têm como orientação o PEPS, no qual são definidas a sua finalidade, as figuras de referência e os conteúdos, métodos e tempos.

O PEPS é o instrumento que reúne os diversos elementos da experiência de vida, convivência e formação que os colégios e residências universitárias salesianas oferecem aos jovens universitários. Como tal, integra numa proposta unitária, as respostas às carências dos jovens, as exigências derivadas da experiência de estudo na universidade e os valores da espiritualidade e da pedagogia salesiana.

A sua elaboração comporta um profundo conhecimento da condição dos jovens e das dinâmicas peculiares que caraterizam as experiências de estudo na universidade e de inserção na experiência de trabalho e profissional. Entre estas, exigem especial atenção a passagem da vida familiar e escolar ao ambiente universitário, a necessidade de criar novas relações interpessoais e aprender a conviver com outras pessoas, a adaptação às exigências e ao método de estudo universitário, a necessidade de integrar a formação científica e profissional com as próprias convicções de vida e de fé.

«Para responder às exigências suscitadas pela cultura universitária, numerosas Igrejas locais tomaram diversas iniciativas apropriadas: busca de uma pastoral universitária que não se limite a uma pastoral juvenil, geral e indiferenciada, mas que tome como ponto de partida este facto: numerosos jovens são profundamente influenciados pelo ambiente universitário. Aí se decide em grande parte o seu encontro com Cristo e o seu testemunho de cristãos. Esta pastoral tem em vista, por conseguinte, a educação e acompanhamento dos jovens que fortes na fé têm de enfrentar a realidade concreta dos meios e das atividades nas quais estão comprometidos» (Presença da Igreja na universidade e na cultura universitária, II, n. 3).

A proposta educativo-pastoral, contida no projeto, oferece um itinerário de crescimento orientado para o pleno amadurecimento humano, a formação de uma visão cristã da vida e o profissionalismo aberto à solidariedade. Por isso, reúne diversas dimensões necessárias para garantir aos jovens uma experiência de formação integral; entre elas:

  • crescimento humano orientado para o pleno amadurecimento, que implica a capacidade de gerir a própria vida com autonomia e responsabilidade;
  • valorização das relações interpessoais, da convivência e do serviço aos outros;
  • desenvolvimento da responsabilidade no estudo e na própria formação;
  • crescimento da própria capacidade de reflexão, debate e empenhamento na busca da verdade;
  • desenvolvimento de uma conceção do profissionalismo aberta à solidariedade e ao serviço dos mais carenciados;
  • crescimento espiritual mediante o conhecimento progressivo e a experiência de fé vivida pessoal e comunitariamente;
  • descoberta da própria vocação e construção de um projeto de vida ao serviço de Deus na Igreja e no trabalho social vivido segundo os valores do Evangelho.

c) A animação pastoral orgânica nos colleges e nas residências universitárias

A atenção a estas dimensões requer que se ofereçam aos estudantes momentos e experiências que garantam a plena realização da proposta educativo-pastoral. Entre estas têm relevância especial:

[1] o ambiente de vida em clima de acolhimento e família, que favoreça o empenho sério no estudo em perspetiva de formação integral da pessoa. Para isso, muitos colégios e residências oferecem, além do alojamento, diversos ambientes de apoio à experiência de estudo e crescimento pessoal: capela, salas de estudo e informática, salas de TV e recreação, salas de encontros, refeições, campos de jogos ou de prática desportiva, etc.;

[2] locais e tempos de encontro e convivência com outros, nos quais aprender a viver em comum e partilhar a experiência de comunidade;

[3] a experiência do acompanhamento e orientação pessoal (vocacional, profissional, de trabalho) que ajude o jovem nos anos de estudo a viver e integrar as diversas experiências formativas;

[4] o programa de formação compartilhada para o ano de estudo, que favoreça o crescimento pessoal, social e cultural. Oferecem-se experiências de aprofundamento cultural e contacto com a realidade social para a formação da consciência ética, responsável e solidária, sobretudo em relação aos mais carenciados da sociedade. Estas experiências orientam para o voluntariado como opção de vida e crescimento humano e cristão;

[5] o itinerário de formação na fé, segundo os valores da Espiritualidade Juvenil Salesiana, através da direção espiritual e de momentos de oração, de reflexão sobre a Palavra de Deus e celebração dos sacramentos.

Onde for possível, a proposta de animação educativa e pastoral do colégio ou residência universitária seja harmonizada com as iniciativas dos departamentos e organismos da pastoral universitária da Igreja local.

Fonte; A Pastoral Juvenil SalesianaQuadro de Referência

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